julho 27, 2013

Moonlight Review

Que os vampiros tomaram o entretenimento de assalto nos últimos anos feito uma tsunami, não é novidade para ninguém. Mas o que talvez a maioria não saiba é que pouco antes da febre se alastrar mundo afora, a CBS levou ao ar uma série a respeito desse universo que anda no meio fio do trash-obscuro-cult.

E sem falar que a ideia na qual fora baseada havia sido iniciada lá em 2004, bem antes de a modinha emergir e irritar os mais puritanos.

Então se tem algo que podemos dizer de certeza a respeito de Moonlight é que ela não só foi quem trouxe os vampiros de volta ao cenário pop, mas como teve o azar de se adiantar demais a própria moda e acabou sendo cancelado ás vésperas da onda vampiresca varrer o mundo, em 2008.

Em estilo noir e edição rápida, a série que inicialmente sofreu mudanças de elenco, nome e emissora antes de ir ao ar, sofreu também com a greve dos roteiristas de Hollywood entre 2007 e 2008 e mesmo tendo voltado depois da parada que muitos programas acabaram tendo de fazer, a série não conseguiu uma continuidade e teve apenas uma temporada de vida.

Moonlight segue os passos do investigador particular e também vampiro Mick St. John (Alex O’Loughlin). Ele dedica sua eternidade a investigar (dãããã) tanto os casos pelos quais é contratado quanto aqueles que possam vir a revelar sua “condição”, atitude apoiada e por vezes iniciada por seu grande amigo, Josef Kostan (Jason Dohring), um vampiro-empresário de mais de 400 anos, que sou capaz de jurar, é a melhor coisa dessa série.

Mick é uma alma solitária *clichê* que nutre um carinho especial pela jornalista Beth Turner (Sophia Myles), a quem ele salvou de um incêndio quando ainda era criança. Levamos um tempo, mas descobrimos que o incêndio fora causado pela ex-esposa de Mick, uma vampira lunática chamada Coraline (Shannyn Sossamon), que no inicio da série é dada como morta e em cinzas.


O carinho do vampiro logo vira outra coisa, assim como os sentimentos de Beth, mesmo que a jornalista esteja noiva de Josh Lindsay (Jordan Belfi), um promotor público em ascensão.

A série não tem regras muito amarradas em relação ao mundo dos vampiros e boa parte do que vemos (prata, sangue, estacas, fogo, etc.) estão relacionadas com a mitologia vampiresca da região dos Bálcãs. Em relação a obras anteriores, é possível traçar semelhanças entre as escritos de Anne Rice e Bram Stoker.

Também é possível fazer um paralelo do romance central de Moonlight com o que acontece entre Angel e Buffy, mas isto já é até esperado tendo o envolvimento do co-criador de Angel trabalhando na produção.

De todo modo, o que realmente aprecio a respeito dessa produção é que ela não nos enrola. Beth leva 2 episódios para descobrir que Mick é vampiro e tudo acontece bem rápido, nos dando poucas chances de ficar entediada com “ai, quando é que ela vai descobrir?”, “quando vai rolar guerra entre os vamps?”, “quando vão pegar o Mick desprevenido?”, “será que vai morrer alguém importante?”. Tudo isso acontece e olha que só tivemos uma temporada.

Alex O’Loughlin provavelmente nunca estará na minha lista de top 10, mas não acredito que ele tenha sido terrível. Muito do que se vê de ruim nessa série é graças ao roteiro, que oras tenta ser sério, foca na narrativa, se comporta bem como uma “história a ser contada”, e oras tenta ser engraçada, pesa a mão e acaba completamente canastra, quase como se quisesse fazer paródia do próprio universo.


Talvez seja essa falta de balanço que tenha contribuído para o conceito generalizado de que a série é ruim. É bem verdade que as atuações de muitos coadjuvantes são de dar pena. Pegue por exemplo o episódio 3. O recém-transformado vampiro que o episódio nos apresenta é uma das coisas mais toscas que já vi – e de tosquice eu entendo bem.

Sophia Myles é uma dessas atrizes competentes que ainda não chegaram lá. A britânica tem boas atuações e foi uma boa escolha para a espevitada Beth, não somente por ser uma atriz com um porte interessante (a atriz não é daquelas que tem a magreza como ponto forte) e voz clara e grave, dando a personagem ainda mais segurança e evitando que fiquemos com a sensação de “coitada da heroína loira em perigo constante”.

Mas nada se compara ao afiadíssimo e afinadíssimo Jason Dohring na pele de Josef, um perfeito espécime do vampiro neoclássico: amoral, charmoso, sagaz, amante do luxo, do prazer e um pouco de crueldade quando o tédio começa a bater à porta.


As falas de Josef são como ecos de um House imortal (ou para os noveleiros de plantão, um quê de Félix); politicamente incorreto, morre-se de rir com cada barbaridade, mesmo sabendo que o intuito é ofensivo e vem de um sujeito que desconhece limites.

A personagem é tão importante para série que apesar de coadjuvante, tem o próprio arco a ser desvendado e se não me engano aparece em todo o episódio, nem que seja para destilar veneno nos cinco minutos contratuais obrigatórios.

O resto do elenco não merece ser citado, visto que, tendo deixado claro antes, as atuações são de dar pena. Ah, outra coisa que dá dó? Ou melhor, dá agonia; as cenas dentro do carro – ô montagem mal feita.

O EPISÓDIO 

Normalmente o episódio 11 é considerado o ponto alto da série e até concordo com a avaliação, mas considero o episódio 4 muito mais importante para o conflito central dessa série que é o relacionamento de Beth e Mick.

Além desses episódios, o pilot é bem interessante já que começa tudo. A primeira cena fica marcada. Mick está sendo entrevistado por uma voz feminina que ainda não conhecemos, mas logo iremos identificar ser de Beth. É tipicamente uma Entrevista com o Vampiro com aquelas perguntas toscas de sempre, mas uma pergunta em particular é ótima. 
Beth: What is it like being a vampire?
(como é ser um vampiro?)
Mick: Being a vampire sucks.
(Ser um vampiro é uma droga*)
*A expressão do inglês “(it) sucks” significa que algo não é bom, é uma droga, mas a palavra suck é mais conhecida como o verbo sugar, como em “sugar o sangue”. Entendida a piada, agora?

SOUNDTRACK

Ruim. Ruim. Ruim. Não tenho outro adjetivo.

O uso de músicas muito genéricas para cenas que costumam carregar algum significado sentimental no episódio transformam o momento em uma grande pieguice. Ainda que algumas vezes a canção possa funcionar adequadamente, nenhuma delas transcende além da tela a fim de nós fazer querer saber que canção é esta.

CONCLUINDO

Os vampiros vão e voltam, às vezes com estilo e outras vezes, nem tanto. Moonlight é um bom caso daquele tipo de produção que é promissora no resumo (um vampiro torturado dando uma de investigador particular), parece legal no papel (ele tem um passado complicado com sua ex-mulher vampira e uma repórter humana), mas é terrível na execução.


A química entre O’Loughlin e Myles, além da sensação de que eles estão prestes a rir um do outro em cena é um bom motivo para assistir a série, até mesmo porque ela é bem curta. Outro motivo é as falas das personagens que nunca cansam de nos surpreender nas horas mais imprevisíveis. Dohring é exemplo perfeito disto.

Infelizmente a canastrice de todo o resto do conjunto pode afugentar aqueles muitos Caxias. Para se divertir com esta série é necessário antes de tudo ter em mente que se deve sempre esperar pelo pior – em todos os sentidos possíveis. E olha que isso vem de alguém que gostou de Moonlight.

PÔSTER 
 

JÚRI FINAL

- Nota: 2 – para combinar com o número de caninos pontudos
- Ícone: Josef Kostan – um BFF vampiro sem papas na língua.
- Créditos: wow, uma lua para um título que diz “luz da lua”, quanta originalidade #SQN.
*Resumo: Se você achava que os vampiros tinham atingido o fundo do poço com aquela história da pele que brilha no sol, é porque você ainda não viu essa série aqui.

BANCO DE DADOS 

*Título Original: Moonlight
*Produção: David Greenwalt
*Estilo: policial, sobrenatural, noir
*Emissora: CBS
*Temporadas: 1
*Episódios: 16
*Ano: 2007

Imagens: IMDb; SBT

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTE E/OU RECLAME