junho 04, 2014

Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos Review

“Tudo o que você ouviu… sobre monstros, sobre pesadelos, lendas sussurradas ao redor de fogueiras. Todas as histórias são verdadeiras”. (Everything you've heard... about monsters, about nightmares, legends whispered around campfires. All the stories are true).
Hodge Starkweather 

Acho que já está claro para todo mundo qual a fórmula certa para fazer um filme adolescente de romance  sobrenatural. E ele tem três passos básicos:

  1. Escolha uma saga literária de sucesso;
  2. Contrate pelo menos um ator de renome para chamar (mais) bilheteria;
  3. Forme um par romântico com química aparente.

A receita é bem simples e deveria funcionar perfeitamente na prática. Deveria. Ter em mãos uma boa ideia não significa que a execução não possa arruiná-la. Infelizmente, acredito que esse seja o caso de Cidade dos Ossos.

Adaptado do romance de mesmo nome da autora Cassandra Clare, o filme apresenta Clary Fray (Lily Collins), uma adolescente que descobre fazer parte de uma linhagem de guerreiros meio-anjo-meio-humano (nefilim) que caçam criaturas das trevas, também chamados de Caçadores das Sombras.

Depois que sua mãe (Lena Headey) é capturada à mando de um tal Valentine (Jonathan Rhys Meyers) ela se vê juntando forças com um grupo de Caçadores formados por Jace (Jamie Campbell Bower), Isabelle (Jemima West) e Alec (Kevin Zegers) e levando seu melhor amigo Simon (Robert Sheehan) para o meio de tudo isso.

O filme é convoluto e dá pouco espaço para que seja possível se conectar com os personagens que simplesmente não param. Eles estão continuamente descobrindo informações que os levam a agir quase que imediatamente, mantendo assim um ritmo de ação bom, mas que prejudica o nível de empatia do público.

A atuação de boa parte do elenco também deixa a desejar em muitos aspectos, embora eu me pergunte em alguns momentos se isso é culpa da inabilidade do ator (Zegers, estou falando de você mesmo), falta de direção (desculpe Rhys Meyers, mas sei que podes fazer melhor) ou roteiro (Campbell Bower e West, porque tão estoicos?).

Não irrite um cara com objeto cortante em mãos
O mais provável é que Harald Zwart não tenha conseguido melhorar muita coisa de um roteiro mal adaptado, já que em outros aspectos o filme convence bem.

Os efeitos visuais e sonoros são muito bons e os figurinos e maquiagem, apesar de comedidos, reforçam o visual mais sombrio pelo qual esse filme optou e acertou, levando em conta que muitos concorrentes da mesma vertente não se atrevem a tentar.

E já que falamos em atrevimento dois aspectos que compensam – em partes – as falhas são: a qualidade obscura dos elementos e os diálogos mordazes.

Cidade dos Ossos herda dos livros uma mitologia muito rica e forte e nem por isso se afasta dela em nome de seu público (os adolescentes menores de idade). O filme abraça esse lado mais lúgubre de sua história e traz para a tela, ainda que timidamente, elementos de terror que poderiam muito bem fazer parte de produções “adultas” – ou pelo menos, aquelas que proíbem menores de idade.

O outro aspecto particular do filme são as tiradas inusitadas de muitos personagens. O humor cáustico não é particularidade de um ou dois personagens, mas sim do filme, que distribui falas memoráveis e tão terrivelmente fora de hora que só de me lembrar, tenho vontade de aumentar um pouquinho a nota final de CdO.
Clary: Você toca esse piano como se você tivesse perdido seu único amor.
Jace: Infelizmente, meu único amor continua sendo eu mesmo.
Clary: Bem, pelo menos você não tem de se preocupar com rejeição.
Jace: Não necessariamente. Eu me dispenso de vez em quando, para manter as coisas interessantes.
Ok, talvez seja o humor de Jace que valha a pena. Não pera... que tal isso aqui:
Valentine: Alguém me disse que você gosta de tocar música.
*BAMBAMBAM*
Valentine: Johann ficaria muito orgulhoso
*Roladerir*
Mas se tem algo que esse filme fez de certo, foi o par romântico. Eita química palpável!


TRILHA SONORA

Absolutamente inútil. Feita para encher linguiça, as canções não entraram em sintonia com as cenas e sequer com o filme que de repente, parecia mais uma espécie de Malhação-dark-side com o surgimento nada sutil de uma música que não tinha nada a ver com o clima.

É uma pena que tenham desperdiçado Demi Lovato e sua Heart by Heart.

REFERÊNCIA CRUZADA 

É bem verdade que a inusitada referência à música erudita foi bem vinda.

- Prelúdio e Fuga N. 1 em C maior, BWV 846 de Bach. É parte inicial da coleção para teclado solo O Cravo Bem Temperado, que serviu de base para a composição da Ave Maria de Charles Gounod. O texto dessa composição é exatamente a oração de mesmo nome, recitada em latim.


- Nefilim. Citado na Bíblia cristã, os Nefilins são uma raça de espíritos impuros por escolha ou por nascimento, já que sua maior parte é composta dos filhos de anjos caídos com humanos. Assim sendo, são chamados e considerados anjos caídos, demônios.

Existe uma literatura farta a respeito desses seres e cada autor tem uma forma diferente de desmistificar a imagem que a Igreja e a Bíblia deram a essas criaturas, apesar da maioria manter sua origem bem próxima do que declaram os escritos sagrados.

PÔSTERES 






JÚRI FINAL 

- Nota: Sete. Na média, embora mereça alguns meio-pontos extras.
- Soundtrack: desperdício de música e trabalho de preguiçoso.
*P.S.: Romance sobrenatural não é para os fracos. Não basta ter um pai vilão que quer conquistar o mundo, ou uma mãe raptada, você ainda pode acabar beijando o próprio irmão e não de um modo fraternal.

BANCO DE DADOS 

*Título Original: The Mortal Instruments: City of Bones
*Ano: 2013
*Estilo: romance sobrenatural; adaptação; aventura;
*Direção: Harald Zwart
*Estúdio: Constantin Film
*Oficial: TMI.com/site


Imagens: TMI Source; IMDb;

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